A filosofia de Carlos Castañeda

“Por mais aterrador que seja o conhecimento, é mais terrível ainda pensar no homem sem conhecimento”.

Carlos Castañeda, escreveu sete livros até o ano de 1987, já lançados em vários países e lidos por milhares de pessoas. No Brasil estes livros foram lançados pela Editora Record, conforme esta ordem : A Erva do Diabo (1968), Uma Estranha Realidade (1971), Viagem a Ixtlan (1972), Porta para o Infinito (1974), O Segundo Círculo do Poder (1977), O Presente da Águia (1981) e O Fogo Interior (1984).


Para maior compreensão é interessante lê-los na ordem acima, pois as experiências transmitidas evoluem de livro para livro. Segundo Castañeda, suas experiências foram adquiridas quando ele entrou em contato com Don Juan Matus, feiticeiro da tribo dos Yaquis, em Sonora, norte do México.


Seu aprendizado iniciou-se em 1960 quando, na condição de antropólogo, foi estudar ervas medicinais entre os índios. Castañeda, abalado pelas experiências que Don Juan lhe propunha, abandona o aprendizado no ano de 1965, mas retorna em 1968 e o conclui em 1971.


Pouco se sabe de sua vida pessoal e, segundo Don Juan, seu Mestre, a história pessoal de um homem que trilha o caminho do conhecimento deve ser apagada, porque através dela as pessoas o controlam, tornando rígido o seu comportamento.


Quanto à sua obra, tem-se questionado se realmente baseia-se em fatos verídicos ou se é fruto de sua imaginação, mas, de qualquer maneira, apresenta muitos aspectos positivos, despertando em muitas pessoas o interesse pela investigação.

LIBERDADE TOTAL SIGNIFICA CONSCIÊNCIA TOTAL

Castañeda aprende com seu Mestre que a busca da liberdade é o verdadeiro sentido da vida de um homem e que somente é livre aquele que busca o conhecimento.


Somente o homem consciente é capaz de discernir entre o que é certo e o que é errado, libertando-se do engano. “Liberdade total significa consciência total”. A sua evolução, sentido da sua vida, significa a evolução da sua consciência. O conhecimento resulta em poder. “Saber é poder”, mas todo poder implica em compromisso. A ligação entre esses elementos – liberdade, conhecimento, poder e compromisso é um dos pontos fundamentais da obra de Castañeda.

QUANDO O DISCÍPULO ESTÁ PREPARADO, O MESTRE APARECE

Para Don Juan, o conhecimento não é uma dádiva do céu, nem é algo que se adquire sem nenhum esforço. Pelo contrário, requer muito esforço por parte do aprendiz e a presença de um Mestre, uma fonte viva que o transmita.


O aprendiz não é selecionado ao acaso, a condição para o homem se tornar um aprendiz é que já tenha desenvolvido um certo “poder pessoal” ou seja, que tenha um interesse pelo conhecimento e o esforço desenvolvido em função desse interesse, são os elementos que o conduzirão ao seu Mestre. O conhecimento ainda é a melhor coisa que o homem pode almejar.

Síntese do artigo homônimo, autor Luís Carlos Marques Fonseca, revista N.A. nº. 1 – 1987

EXISTEM VÁRIAS POSSIBILIDADES DE VER O MUNDO

Segundo Don Juan, a maneira como o homem comum vê o mundo resulta de um aprendizado que se inicia na infância, quando a consciência começa a se desenvolver. A princípio, a criança vê o mundo de maneira caótica. Seus pais e familiares, o ajudam a organizar seu mundo, mas, sem perceber, ela fica prisioneira desse mundo esquecendo-se de que foi ela mesma que o criou e que existem outras possibilidades.


O primeiro passo a ser dado pelo homem que busca o conhecimento é compreender que a visão que ele tem do mundo não é definitiva. Existem outras possibilidades e outros mundos possíveis de serem utilizados pelos homens, desde que respeitadas as leis que os constituem.


Sendo Don Juan um índio, conhece e sabe utilizar o mundo dos feiticeiros e ensina a Castañeda essa forma diferente de ver e utilizar o mundo e o adverte para não ficar preso nele, pois seria pior ainda do que ficar preso ao mundo dos homens comuns.


Don Juan acredita que quando o homem conhece uma outra visão do mundo, diferente da comum, fica mais acessível a outras possibilidades, pois o desenvolvimento da consciência consiste em conhecer e saber utilizar através das leis específicas (ação e reação), a maior quantidade de mundos possíveis…
Para Don Juan, o homem livre é aquele que, conhecendo vários mundos, não limita seu Ser a nenhum deles, embora utilize todos.

SÓ COMO GUERREIRO É QUE O HOMEM PODE SOBREVIVER NO CAMINHO DO CONHECIMENTO

Para o homem suportar as etapas do aprendizado é necessário adquirir, através de muita disciplina de vida, total controle de si mesmo (físico, emocional e mental). Quando adquire o conhecimento e o autocontrole, torna-se impecável, o que significa a máxima eficiência em qualquer ação que desempenhe. O homem impecável é considerado um guerreiro.


As qualidades básicas do guerreiro são: o autocontrole, a disciplina, a paciência, a vontade, a humildade, a impecabilidade, o desprendimento, o esforço contínuo (ação) e a intenção inflexível.


Os principais inimigos do guerreiro são a indolência, a preguiça e a vaidade.


Os guerreiros preparam-se para ser conscientes e a consciência plena só chega quando não há mais vaidade. “Quando são nada, tornam-se tudo”.
Uma sociedade constituída por indivíduos cujo principal objetivo da vida é a busca do conhecimento, tem muito mais condição de oferecer justiça social do que uma sociedade formada por pessoas em disputa constante pela posse de bens materiais.


A busca do conhecimento gera sabedoria, a busca de bens materiais gera disputa, conflitos, guerras, corrupção, injustiça social.
Cremos que na obra de Carlos Castañeda existem elementos essenciais para despertar o interesse do homem pelo conhecimento, e assim, quem sabe um dia, a humanidade possa vir a ser dirigida por sábios.

Síntese do artigo homônimo, autor Luís Carlos Marques Fonseca, revista N.A. nº. 1 – 1987

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