O que nos faz acordar todos os dias e levantar da cama é a motivação, um mecanismo que aciona alguns elementos que nos fazem entrar em movimento, perseguir objetivos.
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Qual a validade destes objetivos, são eles reais e tem genuína importância ou são ilusões que damos importância momentânea e nos auto enganamos inconscientemente, sempre perseguindo o pote de ouro no fim do arco íris?
Se observarmos nossa sociedade atual vamos ver que a principal motivação das pessoas é “ganhar a vida”, ou seja, ganhar dinheiro para poder obter todo o resto das conveniências que o dinheiro pode comprar, mesmo o instinto de mãe tem ainda o instinto de ganhar a vida entrelaçado nas suas motivações.
Via de regra, poucos conseguem superar o problema de ganhar a vida, tendo que suprir essa necessidade até o fim de seus dias, há ainda os que já teriam superado este problema, mas após ter ganhado o suficiente para garantir sua subsistência, continuam, talvez por hábito, a levantar todos os dias em busca de ganhos financeiros, fazendo do que inicialmente era uma necessidade, transformar-se em uma obsessão, e progredir para uma espiral de ambição que na maioria dos casos só se detém quando a pessoa é acometida por uma doença grave, uma perda irreparável ou a própria morte.
Existem raros casos onde a pessoa consegue deter essa espiral através da reflexão e da filosofia, mas ocorre que um hábito enraizado durante toda uma vida deixa um vazio em seu lugar, causando confusão e dúvidas sobre a falta de motivação que agora toma o lugar da ambição.
Imagino que o caminho natural nestes casos, seria preencher este vazio com elementos mais elevados de motivação, como o altruísmo, a caridade, o estudo de outros temas e o serviço desinteressado. Porém quando se opta por estes novos hábitos apenas para preencher o vazio, é outra ilusão, pois não se pode ser altruísta apenas para reencher um vazio existencial, já que isso seria ser altruísta por egoísmo.
Depois de obter êxito ao garantir a subsistência, levando em conta que a motivação sempre foi o benefício próprio, como pode agora o indivíduo mudar de patamar, visto que se trata não apenas de mudar a motivação, mas algo muito mais profundo, uma verdadeira mudança de vibração dos pensamentos, é como utilizar um novo músculo que se atrofiou pela falta de uso.
O sofrimento nesta transformação de objetivos é certa, as dúvidas assombram e ao mesmo tempo, no fundo sabe-se o que deve ser feito, mas falta a coragem para entrar nesta nova vida, já que representa uma morte para a vida antiga, e a luta pela vida faz com que tenhamos aversão a morte.
A esperança entra em luta com o comodismo e as dúvidas, é como renascer e ter que iniciar praticamente do zero, uma nova jornada, aprender novamente a andar, pensar e falar em um novo idioma, em um novo mundo. Essa é a lei da necessidade, e o caminho deve ser trilhado, mas onde antes havia motivações e metas diárias medidas em moeda, agora já não é tão clara e muitas vezes não conseguimos ter certeza se estamos ou não avançando.
É preciso ter fé e aprender a se relacionar com uma intuição interior, que confirma as ações corretas e aponta as ações infrutíferas, só que nem sempre é assim, existem dias em que nos sentimos UM com a natureza e o universo, e tem dias que sentimos como se estivéssemos perdidos, perdendo tempo em ações erradas e sem sentido.
Krishna disse para Arjuna no Bhagavad Gita que a vitória já está garantida, só precisamos lutar, sem apego ao resultado das ações, chamando isso de karma yoga. É possível sentir a verdade destas palavras, mas vivê-las é bem mais difícil, pois assim como Arjuna fraquejou e soltou seu arco, abdicando da luta contra seus parentes, os kuravas, que simboliza os instintos, inclusive o da subsistência, neste conto épico, nós também ainda temos grande dificuldade em matar esses primos que nos acompanharam por tanto tempo, nossos parentes kuravas, nossos instintos.
É preciso substituí-los por virtudes, não é possível deixar de lutar, estamos no centro deste campo de batalha, se não lutarmos seremos arrastados, então a questão que fica é de que lado vamos lutar, do lado dos instintos, os kuravas, que foram úteis ao longo de nossa evolução, mas que agora tentam tomar para sí mesmos a cidade sagrada da nossa consciência, ou então lutar pelas virtudes, os pandavas, que tem a missão de reconquistar a cidade sagrada, nosso verdadeiro eu, nossa consciência imortal.