Na mitologia indiana é representada pela deusa Maya. A deusa que com seus véus cria a ilusão, mas que guarda uma realidade mais profunda.
O homem tem em si algo de filósofo, talvez ainda não desperto, se pergunta em algum momento sobre o ser e o existir, sobre o mistério da morte, sobre quem é, para que vive, porque sofre. Assim, percebe os mistérios, percebe que há algo mais por trás da sua banal vida cotidiana, que talvez não seja tão banal assim…Intui que há respostas para essas perguntas em algum lugar…torna-se um cientista, um artista, um político, ou um homem religioso..quer dizer, vai em busca dessas respostas através dos meios que encontra, mas o que esse homem filósofo quer mesmo é a verdade, porque não pode conceber simplesmente que o mundo deva ser injusto e estúpido. Esse homem leva dentro de si algo, que é uma evidência de justiça, de beleza, de bondade.
Os antigos gregos simbolizavam através de seus mitos o mistério que é o amor, “Eros”, que é filho da pobreza e da abundância, ou seja, amamos o que nos falta, buscamos aquilo que não temos. Esse amor é o que nos faz buscar o todo, o inteiro, o completo, é o amor que nos faz insatisfeitos, mas ao mesmo tempo motivados à busca, à saga, ao risco, à aventura. Ninguém quer ser meio alguma coisa, ninguém quer ser o que não é, não tem graça.
Quando somos crianças nós brincamos, não importa que vamos ser, importa que sejamos alguma coisa e ao mesmo tempo sabemos que é faz de conta, podemos ser médicos, bombeiros, professores, veterinários, astronautas, que importa? Queremos experimentar…imaginamos, teatramos…Aí crescemos, e para ser responsáveis não brincamos mais, a vida passa a ser coisa séria. Perder não é aceitável e a sobrevivência e o conforto são de suma importância. Deixamos para trás nossas ilusões de meninos e passamos a acreditar que a brincadeira é pra valer. Aí o que importa já não é a experiência nem a convivência, o riso e até as brigas honestas com nossos amigos que nos acompanhavam na infância , queremos o resultado, a nomeação, o reconhecimento daqueles que já não são nossos amigos, porque em verdade não se importam em saber quem somos, em que acreditamos, isso já não importa…
O que lhes relato não trata de uma sequência muito inteligente, não há sentido nessa forma de viver, porque dessa forma não se é feliz, ficamos adormecidos. O filósofo, a criança inocente dorme, porém enganosamente continuamos ingênuos e infantis, ou seja, não amadurecemos e perdemos o que era bom naturalmente. Porém, a evolução é o sincero intento de Maya, que não se dá pelo abandono da pureza e inocência da criança, ao contrário, o homem que consegue manter suas virtudes e ainda que sofra injustiças, não as comete, chega ao fim da vida tranqüilo, não teme a Morte, apóia-se em si mesmo.
Tudo na natureza tem uma lógica, uma ordem inteligentíssima, quer dizer, a natureza tem uma inteligência superior, há tanto que não somos capazes de compreender…mas não quer isso dizer que ficaremos inertes, aceitando passar pela vida sem aprender nada…a natureza tem algo a nos ensinar, tudo que nos acontece tem uma razão de ser, deveríamos nos perguntar: isso que eu vejo que tem por trás? Que ensinamento guarda? Se pensássemos assim muitas de nossas angústias não existiriam e poderíamos avançar a cada passo e sermos em primeiro lugar felizes, o resto poderia ser uma bela diversão por vezes, por vezes também um drama, por que não? Mas sempre guardando uma beleza, uma razão perfeita, exata, que nos dá certeza de que estamos vivendo. Não importa que façamos, importa que vivamos isso.
O homem que caminha assim não titubeia, não duvida, esse homem possui uma grande riqueza, sabe que é, de onde veio e para onde vai, não fantasia, sabe o que lhe falta e vai feliz por seu caminho, sempre com a ilusão daquilo que tivera e perdeu, e isso ele faz como um homem de verdade, buscando completar-se com tudo, com os outros, com o universo, esse homem vislumbra o que há por traz da bruma dos mistérios e é capaz de ver a si em todas as coisas, não se isola, é capaz de reconhecer seu lugar dentro do grande mistério, esse homem vive, não pensa.
Esse homem é o verdadeiro filósofo, que com sua ânsia pela verdade, som seu amor pela sabedoria, busca a prática, busca realmente tornar-se um sábio e encontrar o sentido, a direção dessa ilusão que vivemos. Não vê Maya com maus olhos pois percebe que é ela mesma quem guarda a verdade que procura e que precisa compreender como joga, podendo buscar a intuida finalidade transcendente.
Esse Homem ,com maiúscula, deixa pegadas na história para que outros possam recordar do princípio e da finalidade do que vivemos.